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Quer competir? Aprende a treinar primeiro.

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Hoje em dia, parece que todo mundo quer competir — mas quase ninguém quer treinar.No va’a, a canoa virou palco antes de continuar sendo templo. O mar, que sempre foi o mestre da paciência, virou cenário pra selfie e medalhas de final de semana. A pressa de se inscrever numa prova vem gritando mais alto do que a vontade de suar no treino. E isso, inevitavelmente, cobra seu preço.


A frase “a vontade de treinar tem que ser maior que a vontade de competir” não é filosofia barata — é um lembrete cruel da realidade. No mar, quem pula etapas aprende da pior forma: errando no dia da prova. E, pior, colocando em risco não só o próprio desempenho, mas o de quem treinou de verdade.


Nos últimos anos, o crescimento do va’a trouxe um fenômeno curioso: o surgimento do remador freestyle — aquele que aparece para treinar quando o sol tá bonito, some quando venta, e acha que três treinos por mês “já tá bom pra competir”. Ele gosta da vibe, do evento, da medalha, mas não entende que a canoa é coletiva, e que ali dentro cada remada conta.


Quando um desses entra numa raia ao lado de uma equipe de elite, o resultado é previsível: bagunça. 


As equipes de ponta investem meses de treino técnico, físico e mental. Ajustam tempo de troca, respiração, postura, comando, navegação — tudo milimétrico. E, no dia da prova, dividem a raia com equipes que sequer alinharam juntas na largada. A diferença de ritmo, leitura e reação é gritante.


A consequência? Raia cruzada, colisão, interferência, desclassificação. E, o mais frustrante: o esforço de quem se dedicou vira refém do improviso de quem só quer “participar”. É como se um corredor de Fórmula 1 tivesse que dividir a pista com quem acabou de tirar carteira de motorista — ambos no mesmo grid.


Isso não é elitismo, é respeito pelo processo.Competir é consequência do treino — nunca o contrário. Quando o desejo de competir vem antes do desejo de se preparar, o esporte perde o sentido. O va’a nasceu do respeito: à canoa, ao mar e à equipe. Nenhum desses elementos combina com pressa.


Treinar é o que constrói o remador. A prova só revela o que ele já é.Quem treina com regularidade aprende a ouvir o mar, a controlar o corpo, a respeitar o tempo da equipe e a entender que performance não nasce de improviso.


Já quem pula o treino e se apoia na “coragem” do dia da prova, inevitavelmente acaba sendo o peso morto da equipe — ou, pior, o obstáculo na raia alheia.


O va’a está crescendo, sim, mas precisa crescer com maturidade. Não dá pra confundir “inclusão” com “irresponsabilidade”. Todo mundo é bem-vindo no esporte — desde que venha com vontade de aprender, não apenas de aparecer. O mar é democrático, mas exige preparo. A canoa aceita todos, mas cobra de cada um.


Treinar não é só remar. É repetir até o corpo entender o que a cabeça ainda duvida. É chegar no dia da prova com a consciência tranquila de que o resultado é só consequência. Quem quer medalha sem treino não entende o va’a. Quem entende o va’a sabe: o verdadeiro troféu é ver o time fluindo, cada remada encaixada, cada troca precisa, e o mar respeitando o esforço.


No fim das contas, competir é bonito.Mas treinar é o que faz tudo valer a pena.E no va’a, como na vida, quem não aprende a amar o processo nunca vai merecer o pódio.


Alfredo Piragibe


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