Fair Play no Va’a: quando o jogo limpo vira a verdadeira vitória

EQUIPE SAMU LIDERADA SERGIO PRIETO E AMIGOS

“Fair play acabou?” — Essa provocação foi o ponto de partida de um bate-papo necessário, direto do nosso canal, para quem ama a canoa havaiana e quer ver o esporte crescer com integridade.

Sou Marcelo Dias, criador do método RP de treinamento, e hoje quero te convidar a refletir comigo: o que está acontecendo com o espírito esportivo no nosso esporte?

Muito além da regra: o que é fair play?

Fair play vai muito além de seguir regras. É sobre respeito, ética, empatia e compromisso com o desenvolvimento humano, tanto individual quanto coletivo. É sobre competir com garra, mas sem pisar no outro para vencer. É sobre vencer com dignidade — e, quando perder, também aprender com respeito.

Na essência do olimpismo, o fair play está nas pequenas atitudes: reconhecer um erro, dar espaço na boia, evitar o confronto desnecessário, acolher os mais novos, aprender a ouvir e a corrigir. E por que isso importa? Porque o Va’a é um esporte que transforma — e só se sustenta quando construído sobre valores sólidos.

Amador ou profissional: o que nos separa?

Hoje, remadores amadores têm acesso a estruturas e treinamentos de nível profissional. O que muda é o objetivo: o atleta profissional está imerso em metas de alta performance e testes de controle como o antidoping. Já o amador, apesar de não estar submetido a testes oficiais, precisa manter o compromisso ético consigo mesmo e com os demais.

A linha é tênue. A busca desenfreada por resultado, sem preparo técnico, respeito ao adversário ou compromisso com o coletivo, gera desequilíbrio e frustração. Fair play é saber competir com consciência — não a qualquer custo.

Competitividade sim. Rivalidade tóxica, não.

Competitividade saudável é parte do jogo. Ela nos desafia, nos tira da zona de conforto e nos faz evoluir. Mas rivalidade tóxica, aquela que parte para o grito, o empurra-empurra e a deslealdade, destrói o espírito do Va’a.

Infelizmente, relatos não faltam: xingamentos em canoas júnior, bate-bate proposital, gritaria em boia, desrespeito à preferência de largada. Situações assim não são casos isolados — são sintomas de uma base que precisa ser cuidada.

Onde está a solução?

A mudança começa nos líderes, capitães, técnicos e donos de clube. São eles os primeiros a dar o exemplo e formar os valores dos seus atletas. Se um time é conduzido com seriedade, ele respeita. Se o capitão tem ética, o grupo absorve. Se o técnico ensina as regras, o leme navega com consciência.

Precisamos reforçar a formação de base com valores, e não só com treino físico. Porque o verdadeiro remador se forma também fora da água.

Regras claras, atitudes firmes

É fundamental que as regras do Va’a sejam claras, divulgadas e discutidas, não só nos campeonatos Panamericanos e mundiais, mas em cada etapa local e estadual. As regras existem para garantir segurança, fluidez e justiça nas provas — e devem ser respeitadas por todos.

Além disso, precisamos de diálogo, punições consistentes e educação contínua. A criação de conteúdos como as pílulas de regra aos sábados é só um começo.

O futuro que queremos para o Va’a

Se queremos um Va’a forte, respeitado, que inspire marcas, atletas e novas gerações, precisamos cultivar e cobrar o jogo limpo em todos os níveis. Um esporte construído na base da ética e do respeito tem fôlego para durar, para atrair apoio e, mais importante: para transformar vidas.

Não é sobre medalhas a qualquer custo. É sobre crescer com consciência.

E você, já refletiu sobre isso?

• Você conhece as regras da sua categoria?

• Seu time valoriza o coletivo acima do individual?

• Seus líderes falam sobre ética e respeito ou apenas sobre vitória?

• Você já presenciou ou sofreu com atitudes antiesportivas?

Compartilhe suas experiências. Comente, discuta, participe. Só assim conseguiremos fortalecer a cultura do fair play no Va’a brasileiro.

Marcelo Dias Treinador de Va’a, criador do Método RP Treinamento, e acompanhamento técnico para remadores, equipes e clubes em todo o Brasil e mundo afora.