O “trash talk” na canoa: quando a palavra pesa mais que o remo
- Caio Carvalho
- 6 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de out.
💥 “Palavra mal usada vira soco. E uma equipe sem mente sã acaba se partindo.”

Do ringue para o mar
Domingo, 28 de setembro de 2025, o Fight Music Show colocou frente a frente Popó, ídolo do boxe, e Wanderlei Silva, lenda do MMA. Mais do que a apresentação, o que chamou atenção foi o clima que antecedeu a luta: provocações, insultos e ironias — o famoso trash talk — que acabaram alimentando o caos.
Na luta, isso até pode ser marketing. Mas na canoa, é veneno.
O trash talk na canoa
Não precisa de coletiva de imprensa para ele aparecer. Ele surge em comentários atravessados no grupo de WhatsApp, em ironias durante o treino, em comparações entre clubes, em indiretas jogadas no calor da remada.
E o efeito é devastador: corrói a confiança, cria divisões e transforma pequenas divergências em rupturas.
Canoas que poderiam remar juntas acabam se partindo em novas bases e clubes — muitas vezes criados mais por ressentimento do que por propósito.
A dor invisível das palavras
A ciência mostra o peso disso. Pesquisas em psicologia social, como as relatadas pela Folha de S.Paulo, revelam que a rejeição ou a humilhação ativam no cérebro áreas ligadas à dor física. Em outras palavras: uma palavra atravessada pode machucar tanto quanto um soco bem dado.
Quando essa dor vem de dentro do próprio grupo, o estrago é ainda maior.
Responsabilidade de quem lidera
Cada líder sabe o quanto o clima interno define o futuro da base. Uma piada mal feita ou uma ironia mal interpretada pode se tornar combustível para rivalidades internas. O que deveria ser desafio contra o mar vira disputa dentro da própria equipe.
E quando isso acontece, a canoa já não segue inteira.
A palavra também é um remo
O aprendizado é simples: a palavra tem o mesmo peso que a cadência do remo. Pode alinhar o time no compasso certo ou desorganizar toda a remada.
Cabe aos líderes mediar, cortar o que não soma e cultivar um ambiente onde a energia não se perca em trash talk's nos corredores, mas seja direcionada para o mar aberto.
Porque no fim, não vence quem fala mais alto. Vence quem mantém a canoa inteira. 🌊
Como minimizar os danos do trash talk
Sabemos que ele vai acontecer. Somos diferentes, cada um com sua história, sua vaidade e seus dias ruins. O que faz a diferença é a forma de lidar. Algumas chaves práticas para líderes de clubes e bases:
Estabeleça regras claras de respeito: o que é brincadeira e o que passa do limite precisa estar definido.
Traga o assunto à luz rapidamente: não deixe provocações virarem silêncio corrosivo; medie cedo.
Use a roda de conversa: muitas vezes, falar cara a cara é a melhor forma de dissolver tensões.
Reforce o propósito maior: lembrar sempre que o adversário não está dentro da canoa, mas lá fora, no mar.
Dê o exemplo: líderes que falam com respeito e foco criam a cultura que desejam ver replicada.
No fim, não é sobre calar as provocações, mas sobre aprender a remar acima delas. A canoa só segue inteira quando cada palavra vira força para o mar, e não peso para afundar o time.


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